Perfil Christiane Amanpour, por Paula Viana, Janeiro
2014.
É verão em Teerão. Corre o ano
de 1978. Christiane está com o seu pai na sala de estar de sua casa e observa-o
enquanto ele mantém um olhar fixo e pensativo através da janela como que a
olhar para o infinito e a imaginar o desconhecido.
“Está
tudo acabado. Nada nunca mais vai ser igual”- disse.
Christiane Amanpour tinha 20
anos e a maturidade suficiente para perceber nas palavras profundas do pai, a
pessoa de quem mais dependia e confiava, a tristeza, a incerteza e o medo.
O regime monárquico do Irão
está nas mãos do Xã Mohammad Reza
Pahlavi que leva com braços de ferro os destinos do país. Instala a lei marcial
e o recolher obrigatório.
Certa
noite Christiane e o pai Mohammed regressam a casa de um jantar tardio e
repentinamente são sobressaltados por soldados com baionetas em punho
forçando-os a apressarem-se para casa.
Em
Janeiro de 1979 a Revolução Islâmica estala no Irão e o Xã é derrubado.
Christiane
lembra-se dos fins de tarde no alpendre. Sentada com as suas quatro irmãs mais
novas e os pais a ouvir a voz do Aiatolá Khomeini, uma voz que sonava nos
altifalantes da mesquita mais próxima e que rezava por oração e revolução.
E
fitavam-se. Imaginavam por um instante o abalo que aquelas palavras iriam ter
nas suas vidas.
A
família Amanpour refugia-se em Inglaterra.
Christiane
sempre soube. Traçou de imediato o seu destino. As dificuldades deram um
propósito à sua vida. Queria escrever a sua própria história não como vítima
mas como contadora de histórias que pudessem dar voz aos outros, queria estar
no meio dos eventos mundiais que transformam a vida das pessoas.
Amanpour
soube logo que queria ser jornalista e não havia caminho de regresso. E desde então
abraçou uma missão.
Londres.
A
pequena Escola de Jornalismo de Fleet Street abriu-lhe as portas.
Mas
Amanpour sempre soube. E seis meses mais tarde percebe que tem de partir para
os Estados Unidos.
“Se eu tiver uma missão e
trabalhar arduamente, eu posso ser bem sucedida na América”.
E
assim foi.
A
menina que nasceu em Londres no dia 12 de janeiro de 1958, no seio de uma
família abastada e bem relacionada politicamente, filha de mãe católica inglesa
e de pai muçulmano iraniano, logo após o seu nascimento vai com os pais para
Teerão, onde o pai é executivo de uma companhia aérea. Vive uma infância protegida.
É
uma menina tímida mas já muito atenta às conversas dos adultos. Intrometida
segundo alguns. Gosta de estar sempre por perto para ouvir. Aos 5 anos brinca
com a sua cadela Cindy e com a sua irmã Fiona. Tem um olhar doce de olhos
negros e um sorriso aberto nuns lábios carnudos. O cabelo preto brilhante
emoldura-lhe o rosto com uma franja curta que lhe faz sobressair as
sobrancelhas bem delineadas e o narizinho empinado.
Tal
e qual como é hoje.
Em
Teerão, Christiane vive numa casa ampla e bem decorada. Veste blusinhas brancas
com casaquinhos de malha e saias de pregas pelos joelhos. É uma menina
privilegiada.
Monta cavalos árabes desde
os 5 anos e sempre que cai é literalmente agarrada pelos colarinhos e tornada a
ser posta nas costas do cavalo, o professor de equitação não lhe dava outra
hipótese. Desde ai começou a ter uma certa audácia e insolência. Sempre foi
ensinada a ter coragem e força.
Aos
11 anos vai para o Reino Unido onde estuda nos mais conceituados colégios
internos de tradição católico-romana. Fala Persa, Inglês e Francês
fluentemente. Regressa aos 18 anos para Teerão e dá por certas algumas coisas
na sua vida.
“Vou casar cedo, viver no Irão
e continuar a levar uma vida relativamente protegida”.
Mas depois Amanpour perdeu o
seu país e tudo o que lhe era importante, membros da família e amigos foram
executados. Passou pela revolução no Irão e sobreviveu com uma certa força.
O sonho
americano esperava-a. Frequentou a Universidade de Rhode Island onde estudou
jornalismo e se graduou em 1983, Summa
Cum Laude, com as maiores honras e com as melhores notas. Amanpour
perseguia com ambição o sucesso. Até hoje o faz e não há nenhum prémio de jornalismo
televisivo que não seja seu.
Depois
de alguns estágios em orgãos de comunicação locais associados à Universidade, Amanpour
entra ainda em Setembro de 1983 na CNN onde fica colocada como assistente em
Atlanta. A CNN hoje uma cadeia de televisão internacional e consagrada outrora
uma criança nascida em 1980 a dar os primeiros passos num jornalismo que viria
a ser pioneiro.
Amanpour
chegou à CNN com um fato, uma bicicleta e cem dólares. Lizzy, a sua irmã onze
anos mais nova e também jornalista recorda o passado e conta que disseram a
Christiane inúmeras vezes que ela não tinha nem o look, nem a voz certa para ser jornalista de televisão. O primeiro
chefe disse-lhe:
“Nunca vais conseguir”.
Mas
Amanpour conseguiu. Ambiciosa e persistente sem nunca achar que nenhum trabalho
que lhe fosse atribuído era demasiado fútil, impôs claramente os seus
objectivos aos seus superiores.
“E quando o grau de exigência estava acima
do meu grau de experiência eu não me encolhia. Fazia o melhor que pudia.”
Queria
ser correspondente internacional. Queria ser correspondente de guerra. Fazer
reportagem no terreno, assistir ao que se passa no mundo, falar com as pessoas
e dar-lhes voz. Queria ser jornalista, contar histórias. Queria dar a
informação e a verdade ao mundo pelos seus próprios olhos.
Em
1986 é transferida como correspondente para a Europa de Leste durante a queda
do comunismo. O seu estilo de reportagem começa a chamar à atenção da CNN.
Em
1989 vai trabalhar para Frankfurt de onde reporta as revoluções democráticas do
leste europeu e a queda do Muro de Berlim.
Em
1990 consegue o lugar de correspondente internacional na CNN em Nova Iorque.
A
década de 90 é a década de glória de Christiane Amanpour. Amanpour consagra-se
como jornalista e repórter de guerra pelo seu estilo de reportagem e audácia.
Amanpour
finalmente embarca na sua missão. Com as reportagens da Guerra do Golfo Pérsico
em 1990/91, aquando da ocupação do Koweit pelo Iraque ela eleva a fasquia como
jornalista e leva a CNN até um patamar de cobertura de notícias completamente
novo. No pós-guerra Amanpour continua a cobertura jornalística com várias
reportagens sobre a revolta dos curdos no norte do Iraque.
Ainda
em 1991, Amanpour cobre o desmantelamento da União Soviética e o consequente
conflito na Georgia.
Christiane
Amanpour está em todo o lado. É The New
York Times que o diz:
“Onde estiver a guerra, está
a Amanpour.”
Bósnia-Herzegovina,
Balcãs, 1992-1996. O palco da vida de Amanpour.
Mais
uma manhã fria em Sarajevo, a cidade está cercada. Amanpour dorme num quarto de
um hotel que se assemelha a uma torre de cimento com janelas que ao longe parecem
gaiolas, no centro da cidade, na linha da frente, sem protecção, sem água, sem
aquecimento. Nessa manhã acorda com o som da artilharia a entrar na cidade e a
bombardear as pessoas, os civis.
Estava
desesperada para sair do quarto mas não encontrou a chave. Depois houve um
silêncio e pensou que tinha sonhado. No hotel, dois andares abaixo do seu
quarto um morteiro tinha esburacado um quarto vazio, que porque o destino de
Amanpour assim o quis, não explodiu.
Amanpour
bate sempre três vezes na madeira quando sobrevive a qualquer situação de
perigo eminente, sempre que a vida lhe é poupada.
E
fez questão de nunca mais esquecer aquela manhã fria e barulhenta que
subitamente se transformou em silêncio como se não tivesse passado de um sonho.
Amanpour trouxe consigo o engenho que não explodiu para se recordar que pudia
estar morta, mas sobreviveu. É um dos muitos objectos decorativos que traz das
suas viagens pelo mundo. Agora está em sentido e em silêncio na sua
casa-de-banho a servir de porta guarda-chuvas.
Amanpour
tem uma relação especial com o medo.
“O que tiver de acontecer.
Acontece.”
As
reportagens de Amanpour sobre o conflito nos Balcãs viraram a mesa do
jornalismo internacional. Amanpour revela-se uma correspondente de guerra
intrépida e corajosa. À frente das câmaras da CNN, Christiane Amanpour está no
terreno, sem maquilhagem, de colete à prova de bala e capacete. Sem rede.
Amanpour
faz uma cobertura jornalística da natureza selvagem do conflito na Bósnia,
histórias de interesse humano violentas, rigorosas, perspicazes e sempre
inspiradoras. O mundo ocidental ficou realmente a saber o que lá se estava a
passar.
O
Massacre de Srebrenica, o grande genocídio na Europa depois do Holocausto.
Amanpour reporta as atrocidades da Bósnia e recusa que o Ocidente as ignore.
Ela assume uma posição arriscada enquanto jornalista com o seu estilo de
reportagem emocional.
A
regra de ouro dos jornalistas: a objectividade.
Amanpour
é confrontada com ataques e críticas ao seu trabalho que questionam a sua
objectividade profissional.
Mas
a combativa e profissional Amanpour defende-se e justifica-se.
“Quando somos neutros. Somos
cúmplices. Objectividade não significa tratar todos os lados igualmente.
Significa escutar cada um dos lados.”
Amanpour
acha que os jornalistas devem chamar as coisas pelos nomes e contar sempre a
verdade. E foi este estilo de reportagem que a catapultou para a fama
internacional.
Amanpour
é descrita como calma, modesta, reservada e bastante magnética mas quando lhe
falam de jornalismo e de verdade transforma-se na destemida correspondente de
guerra capaz de fazer a cobertura jornalística nas piores zonas de conflito
mundiais.
Christiane Amanpour desde
criança foi habituada a conviver com diferentes religiões e culturas, etnias e
ambientes e acredita na tolerância religiosa, política e em qualquer tipo de
relação, construindo pontes entre as diferenças, minimizando o extremismo.
Não
é difícil imaginar que Amanpour já esteve em todo o lado, ela persegue os
acontecimentos e já assegurou entrevistas exclusivas com os maiores e mais
duros líderes mundiais. É impossível nomeá-los todos.
Falta-lhe
um: Estaline. Se fosse vivo, Amanpour gostava de lhe perguntar como é que um
homem vulgar se transformou num assassino de massas megalomaníaco.
Amanpour já cobriu os
maiores conflitos e crises de todo o mundo. Iraque, Balcãs, Afeganistão, Médio
Oriente, Irão, Paquistão, Somália, Sudão, Ruanda, Líbia, Egipto, Coreia do
Norte…
Mas não esquece a Bósnia nem
o Ruanda. Os mais sangrentos. Chora quando fala no Ruanda.
Amanpour
é assim: procura superar-se todos os dias e nunca acha que já não tem nada a
provar, quer dar sempre o seu melhor. Confessa que até quando entrevistou
recentemente Malala Yousafzai, uma jovem paquistanesa de 16 anos que defende os
direitos humanos e a educação, estava nervosa.
“Estou sempre nervosa, é uma
questão de adrenalina.”
Mas
quando a entrevista começa esquece tudo e sente-se na sua zona de conforto.
Embora
nem sempre tenha sido assim. Um dos momentos memoráveis da sua carreira
televisiva acontece quando em 1992 entrevista telefonicamente o líder
palestiniano Yasser Arafat quando está cercado por tropas israelitas no seu
quartel-general em Ramallah. Visivelmente irritado com as suas perguntas incisivas
e com a sua situação, Arafat repreende
Amanpour em directo. Ela repete as perguntas num arregalar de olhos sem
desistir mas Arafat diz:
“
Obrigado. Bye. Bye”. E desliga-lhe o telefone na cara.
Mas
Amanpour não perde o leme.
Por
um dia troca o mundo por si. A 8 de Agosto de 1998 na pitoresca e romântica
vila medieval italiana de Bracciano no clima temperado do mediterrâneo, num dia
de céu azul e calmaria Christiane chega. Chega sem pressa. Chega sem colete à
prova de bala, sem capacete e sem as suas fiéis botas de campo Tods que já
palmilham o mundo consigo desde que as comprou em Paris em 1992. Também não traz microfone e não vai ter de
partilhar a tenda com o cameramen num deserto abrasador e poeirento.
Depois
do sonho americano, o conto de fadas.
Amanpour
não tinha a certeza do que vestir então comprou um simples vestido de noite
branco.
“Tens de vestir um vestido
fabuloso!”- alguém lhe disse.
Faltavam
duas semanas para o casamento quando Amanpour se rendeu ao atelier da estilista Catherine Walker em
Londres e comprou o seu vestido de noiva.
“O vestido era lindo e justo
com cauda média e gola redonda e aí pude mostrar os meus braços, foi o meu dia
Michelle Obama”, que Amanpour tem
como um símbolo de inteligência e elegância.
Christiane
casou com James Rubin, conhecido por Jamie, um americano de fé judaica, antigo
assistente de secretário de estado e porta-voz durante a administração Clinton.
A
cerimónia católica aconteceu na igreja medieval de Santo Stefano e mais tarde a
cerimónia judaica no lindo castelo feudal de Orsini-Odescalchi.
JFK
Jr. e Carolyn Bessett amigos chegados dos tempos da universidade foram os
convidados mais mediáticos do casamento de Amanpour.
Com
42 anos teve o seu primeiro e único filho, Darius John Rubin. Darius I, o
Grande, Amanpour relembra o histórico rei da Pérsia.
Enquanto esteve grávida não
pensou sequer em deixar de ser correspondente de guerra. Assume uma exagerada
arrogância durante a gravidez porque estava consciente de ser mulher e não pudia
correr o risco de lhe dizerem que agora que ia ser mãe não pudia fazer mais o
seu trabalho. Amanpour dizia para si própria e para os outros que nada ia mudar
e que levaria a criança com ela, que só precisava de fraldas de kevlar e um
mini colete à prova de bala!
Mas no momento em que Darius
nasceu Amanpour mudou. Diz que nunca na vida o levaria a esses lugares. O amor
e o sentimento de protecção é inexplicável. Desde que se tornou mãe Amanpour
fica imensamente mais emocionada cada vez que vê crianças indefesas em
sofrimento e chora cada vez que isso acontece.
Amanpour sempre teve um
sentimento de invulnerabilidade, que nada de mal lhe pudia acontecer, agora
sente mais preocupação acerca da sua própria segurança e sobrevivência.
Christiane admite que nunca puderia ter feito o trabalho que fez se fosse
casada ou tivesse um filho. Hoje em dia acorda e pensa que se transformou num
gato assustado.
Amanpour deu toda a sua
energia, emoção e intelecto ao jornalismo e já o faz há três décadas. Ainda
quer fazer reportagens sobre imensas histórias. Adora fazer reportagem sobre
mulheres e crianças que continuam a ser oprimidas e não têm voz nem direitos na
sociedade. Adora quando conhece histórias de luta e de sucesso que pode mostrar
ao mundo.
Quando lhe fazem a habitual
pergunta sobre se o seu trabalho seria mais fácil se ela fosse um homem, Amanpour
responde sem dúvidas. Sente-se confortável como mulher e nunca desejou ser
homem.
“No
trabalho é como se fosse um homem, mas melhor.”- desafia.
“Nunca”.
De 1996 a 2005 foi repórter
do 60 Minutes da CBS News, com
reportagens especiais internacionais mas Jeff Fager, o responsável que sucedeu
a Don Hewitt, não era fã do trabalho de Amanpour e terminou-lhe o contrato.
Desde
1992 Amanpour era chefe dos correspondentes internacionais da CNN mas a 18 de
Março de 2010, anunciou que iria deixar a CNN pela ABC News, onde apresentaria
o programa semanal nas manhãs de domingo sobre política interna americana This Week. Apesar deste novo desafio
Amanpour já fazia parte da família CNN e fez uma despedida sentida.
“Deixo a CNN com o máximo respeito,
amor e admiração pela empresa e por todos os que lá trabalham. Esta tem sido a
minha família nos últimos 27 anos e estou para sempre grata e orgulhosa por
tudo o que conquistamos.”
Jim
Walton, presidente da CNN, elogiou Amanpour pelo seu empenho, por perseguir as
histórias em qualquer parte do mundo, pela sua paixão, carácter e generosidade
e acima de tudo pelo seu extraordinário jornalismo.
Amanpour já foi considerada
pela revista Forbes uma das mulheres mais poderosas e influentes do mundo, e a
Revista Time considerou-a a correspondente de guerra mais influente desde Edward
R. Murrow.
Ganhou todos os grandes
prémios do jornalismo televisivo incluindo um Inaugural Television Academy
Honor, nove Emmy, quarto George Foster Peabody Awards, dois George Polk Awards,
três Du Pont Columbia Awards, Courage in Journalism Award, Edward R. Murrow Award,
a Giants of Broadcasting Honor from Library of American Broadcasting, nove
graus honorários entre outras honras.
É membro do Comite de
Protecção dos Jornalistas e da Fundação Internacional das Mulheres nos Media,
faz parte da Academia Americana de Artes e Ciências, é Cidadã Honorária da
Cidade de Sarajevo e Mulher Iraniana do Ano 2007.
Uma das maiores honras que
alcançou como jornalista foi-lhe atribuida pelas mãos da Rainha de Inglaterra,
quando foi nomeada como Commander of the Most Excellent Order of the British
Empire (CBE).
No Palácio de Buckingham a 17
de Junho de 2007, Amanpour veste um fato branco com saia e um chapéu castanho
com um laço. A Rainha de vestido azul brilhante põe a medalha na lapela de
Amanpour. É uma cruz azul e dourada numa fita vermelha com o mote “For God and
the Empire” pelos seus serviços prestados em prol do jornalismo. Representa o reconhecimento
do jornalismo sério. Agradece e partilha a honra com os colegas e amigos que
acreditam no mesmo tipo de jornalismo, bem como aqueles que morreram ou ficaram
feridos a fazer reportagens nas linhas da frente.
Amanpour lembra com
gravidade e pesar a morte recente de Marie Colvin, em missão na Síria e de
outros correspondentes estrangeiros em zonas de guerra.
“Eles
querem calar-nos. Basta olhar para as estatísticas, eles querem matar o mensageiro”.
Actualmente Amanpour é apresentadora
dos assuntos internacionais na ABC News e também apresentadora da CNN
International a que regressou a 16 de Abril de 2012 com Amanpour, o programa diário de entrevistas sobre assuntos
internacionais da actualidade transmitido em prime-time. Continua a ser a chefe internacional dos
correspondentes da CNN.
Amanpour fez inúmeros documentários. Where
all the Parents Gone?; In the Footsteps of Bin Laden; Revolutionary Journey; The
War Within, God’s Warriors. Numa lista interminável de
trabalhos de grande qualidade que continuam a acumular prémios.
Nunca foi jornalista de
secretária, o campo é o seu terreno, o autêntico centro de gravidade do
jornalismo. Estar no estúdio a apresentar programas fá-la sentir-se como um
animal enjaulado.
No estúdio com maquilhagem e
cabelo arranjado Amanpour parece uma mulher diferente. As pessoas perguntam-me
se fez algum lift ao rosto. Mas não.
Simplesmente tem melhor luz no estúdio. Brinca quando diz que a costumavam
chamar Jagger lips, por causa dos
seus lábios naturalmente proeminentes. De cabelo negro brilhante e com as
típicas argolas e pulseiras de ouro que a caracterizam, Amanpour continua
implacável e assertiva à frente das câmaras, mas sempre discreta.
Christiane acredita que a
roupa que os jornalistas usam à frente da câmara não deve sobrepôr-se e tirar a
importância à informação.
Não que Christiane nunca
tivesse sentido dentro de si o desejo secreto de ser uma mulher elegante como Audrey
Hepburn ou Jackie Onassis mas a moda para ela é território hostil e
desconhecido. Os seus ícones de estilo são os casacos safari, ou a eterna parka
verde-azeitona com capuz de pelo a que habitou os telespetadores enquanto
esteve na Bósnia, cabelo brilhante com franja e a sua feroz inteligência. O seu
look é simples e prático e é capaz de fazer as malas em quinze minutos.
Mas Amanpour é mulher. E tem
muita classe.
Christiane
tem objetos de culto. Gosta de ter coisas boas e duradouras. Não gosta de usar
as coisas uma só vez, geralmente guarda-as para sempre. Gosta de ver nas peças
que usa uma história. E tem peças de estimação que afirmam o seu carater. Peças
de joalheria que marcaram algum momento importante da sua vida como o relógio Bulgari
que usa, um generoso presente de casamento oferecido por Paolo Bulgari.
Ainda
guarda os sapatos do seu casamento, uns Manolo
Blahnik que mandou pintar de vermelho mais tarde. Geralmente mais altos do
que usa diariamente. Na maior parte das vezes usa sapatos rasos porque anda de
bicicleta para todo o lado que pode.
Recorda-se
que durante o furacão Sandy, a tempestade tropical que trouxe ventos fortes e
inundações em Nova Iorque e bloqueou os transportes, chegou à televisão todos
os dias de bicicleta sem nunca se atrasar.
Desde cedo esteve em várias
cidades do mundo, mas nestes últimos anos tem dividido a sua vida pessoal entre
Nova Iorque e Londres. Quando casou vivia em Londres e Jamie estava em
Washington viam-se praticamente uma semana no mês e estavam juntos no metro, depois
engravidou e as pessoas perguntavam-lhe:
“Como?!”
Em Março de 2000 quando
nasceu Darius, Jamie muda-se para Londres. Vivem no charmoso bairro de Notting
Hill e passeiam como qualquer família no Hyde Park.
Anos mais tarde Nova Iorque,
onde vivem no nobre bairro de East Upper Side em Manhattan, num apartamento de
luxo com vistas para o Central Park onde Amanpour tem uma generosa colecção de
livros e de obras de arte.
Em Maio de 2013, Jamie
anuncia que a família regressa a Londres. Depois das férias, Amanpour e a
família regressam no fim de Julho novamente para a casa de Notting Hill.
Amanpour está feliz com o
regresso a Londres. Londres é a sua casa. Onde vive a família e os amigos que
deixou para trás.
Amanpour é uma mulher feliz.
Gosta de sair. Ir a bons restaurantes, ver boas peças de teatro, ir ao cinema e
ir com o filho visitar museus. Entusiasmada diz que não esquece a atuação de
Eric Clapton no Royal Albert Hall.
Christiane nunca vai ser uma
dona de casa. Confessa que não sabe cozinhar e sente-se aliviada por admiti-lo
sem nenhum problema. Tem almoços de família semanalmente em Londres e encomenda
comida persa.
Nunca passa muito tempo
sozinha. Faz questão de aproveitar o tempo que tem com o filho e com o marido,
os amigos e a família. Fala com carinho e orgulho dos pais que continuam
juntos. O pai Mohammed, que já ultrapassou os noventa anos e a mãe Patricia,
dezanove anos mais nova.
Amanpour continua a acreditar que os jornalistas são forças
indispensáveis nas democracias e nas
sociedades civis. Ela diz que se a profissão não for respeitada pelos próprios
jornalistas e for desperdiçada no domínio da trivialidade e do sensacionalismo,
os jornalistas vão perder a sua reputação. Ela acredita que uma sociedade
próspera precisa de uma imprensa próspera.
Amanpour continua a ter
confiança no jornalismo o que faz dela uma espécie em vias de extinção. Ela
acredita que os próprios jornalistas têm de parar de se minar a si próprios e
perceberem que o jornalismo é uma incrível e nobre profissão. Amanpour fala com
entusiasmo de Woodward e Berstein. Jornalistas exemplares que nunca perderam a
integridade nem a credibilidade.
“Que
heróis!”.