domingo, 9 de março de 2014

“Procuro que o meu trabalho seja inquiridor e que as questões que levanta ajudem a alargar a forma como vemos e conhecemos o mundo.”




Entrevista Joana Vasconcelos, por Paula Dinis Viana, 26 de Novembro 2013.

Joana Vasconcelos vive e trabalha em Lisboa num atelier virado para o Tejo. Nasceu em Paris em 1971, mas cedo voltou para Portugal. É uma artista plástica invulgar que trabalha no domínio da arte pública, em esculturas e instalações de grandes dimensões, com materiais pouco convencionais. Joana vem de uma família de artistas. A arte está-lhe no sangue e o seu percurso profissional surgiu com naturalidade. Já conquistou o circuito internacional da arte contemporânea. Algumas das suas peças fazem parte de coleções de arte privadas, outras espalhadas pelo mundo fazem grandes exposições. No ano passado destacou-se por ser a primeira mulher a expôr em Versalhes com um número recorde de visitantes, este ano arrebatou o Palácio Nacional da Ajuda com a sua exposição, ainda levou o cacilheiro “Trafaria Praia” à Bienal de Veneza e recentemente foi a artista portuguesa convidada a criar uma peça a pedido da Casa Dior para a exposição no Grand Palais em Paris.
As suas obras de arte nascem das suas próprias ideias, do seu pensamento crítico enquanto mulher e artista contemporânea que pretende comunicar através das suas criações. Qual é a sua principal missão quando cria, qual a mensagem que pretende transmitir a quem vê as suas criações?
- Como artista assumo uma forma particular de me relacionar com o mundo e procuro proporcionar aos outros novos modos de ver, olhar e percepcionar. Procuro que o meu trabalho seja inquiridor e que as questões que levanta ajudem a alargar a forma como vemos e conhecemos o mundo. Faço questão de não fechar as minhas obras num raciocínio único ou numa só interpretação. A riqueza está nos diversos discursos e leituras que poderão emergir da experiência com a obra.
As suas esculturas e estruturas utilizam a grande escala, a cor, os objetos do quotidiano, a arte manual tradicional. Como explica o seu processo criativo desde a ideia até à materialização da obra, de que forma consegue descontextualizar objetos e recriá-los noutra realidade?
- Partindo de um conceito estabelecido, procuro como expressá-lo e materializá-lo, sendo que os materiais utilizados e seleccionados vão ao encontro do assunto que pretendo tratar. No caso do recurso a objectos do quotidiano, estes trazem consigo uma capacidade enorme de gerar significados, pelas associações que fazem surgir junto da nossa memória e pelo seu potencial para ganhar significações novas, quando desafiados a servir ou a questionar ideias.
Atendendo ao atual contexto político-económico que Portugal vive. Como artista portuguesa reconhecida de que forma vê o futuro da arte e da cultura no nosso país? Que conselhos daria ao Governo, aos orgãos de comunicação social e aos jovens artistas em prol das artes?
- Acredito que o Governo, o ensino e os próprios artistas deverão investir mais em Arte Pública – para que a arte seja acessível a todos.
Quando cria peças como A Noiva, os sapatos de Marylin, Coração Independente, as Valquírias, Lilicoptère, J’Adore Miss Dior... Obras de grande dimensão e impacto visual. Como imagina que o público as vai receber, como lida com as reacções (as boas e as más) do público e da crítica?
- Preocupo-me sobretudo em responder da melhor forma possível às minhas próprias exigências, pois os meus próprios requisitos são bem altos. No entanto, a minha obra também favorece e exige uma troca de ideias com o público. O seu papel não é estático, de mero observador, mas antes torna-se num interveniente da própria obra, gerando leituras variadas que partem da forma como percepcionam e respondem à obra. A meu ver, a arte só tem a ganhar com o confronto com o público, com culturas e pessoas diferentes, sejam as reacções boas ou más. Mas felizmente, a recepção é pela maior parte mais que positiva.
Exposições internacionais em Versalhes, Bienal de Veneza, Palazzo Grassi, Grand Palais de Paris, Museu de Arte de Telavive…e em Portugal no Palácio da Ajuda a exposição individual mais vista de sempre com quase duzentos mil visitantes. Como artista nacional, que projetos profissionais gostaria de ver realizados num futuro breve em Portugal?
- Gostaria de ver realizados projectos de Arte Pública no Norte e Sul do País e de fazer uma grande exposição no Porto.
Já viu obras de arte suas serem rejeitadas e censuradas em exposições, não só pelo público mas também pelos próprios curadores ou organizadores dos eventos. A Noiva, por exemplo, criação realizada com tampões. Enquanto criadora como reage ao poder da censura e à limitação da liberdade de expressão dentro do próprio meio artístico?
- A liberdade de criação é-me muito importante, e os artistas plásticos não trabalham segundo programas, como os designers e os arquitectos. No entanto, reajo com tranquilidade, no sentido em que aceito a diversidade de opiniões – faz parte do funcionamento do meio.
É uma artista de sucesso nacional e internacional. Consegue fazer uma auto-avaliação, uma retrospetiva do seu trabalho? Quais são os seus segredos, as suas mais-valias, os seus fracassos, os pontos diferenciadores que tornam as suas criações especiais?
- Penso que a pessoa que sou e a família que tenho em muito contribuem para o meu percurso. Sou uma pessoa sonhadora, muito trabalhadora, persistente e exigente, e tive a sorte de nascer no seio de uma família em que as artes não são vistas como o “papão negro”. Felizmente nunca me puseram entraves. Também tenho tido convites para fazer certas exposições, em determinados locais, que têm aberto portas - como Versalhes e as Bienais de Veneza. Os percursos não são ganhos com uma só exposição, mas estas oportunidades potenciam outros convites e dão uma maior possibilidade de melhor desenvolver a carreira. Olhando para o meu percurso, só posso dizer que é AAA+, como os ratings dos mercados.


Amanpour persegue “estórias” pelo Mundo


Perfil Christiane Amanpour, por Paula Viana, Janeiro 2014.


É verão em Teerão. Corre o ano de 1978. Christiane está com o seu pai na sala de estar de sua casa e observa-o enquanto ele mantém um olhar fixo e pensativo através da janela como que a olhar para o infinito e a imaginar o desconhecido.
“Está tudo acabado. Nada nunca mais vai ser igual”- disse.
Christiane Amanpour tinha 20 anos e a maturidade suficiente para perceber nas palavras profundas do pai, a pessoa de quem mais dependia e confiava, a tristeza, a incerteza e o medo.

O regime monárquico do Irão está nas mãos do Xã Mohammad Reza Pahlavi que leva com braços de ferro os destinos do país. Instala a lei marcial e o recolher obrigatório.

Certa noite Christiane e o pai Mohammed regressam a casa de um jantar tardio e repentinamente são sobressaltados por soldados com baionetas em punho forçando-os a apressarem-se para casa.

Em Janeiro de 1979 a Revolução Islâmica estala no Irão e o Xã é derrubado.

Christiane lembra-se dos fins de tarde no alpendre. Sentada com as suas quatro irmãs mais novas e os pais a ouvir a voz do Aiatolá Khomeini, uma voz que sonava nos altifalantes da mesquita mais próxima e que rezava por oração e revolução.

E fitavam-se. Imaginavam por um instante o abalo que aquelas palavras iriam ter nas suas vidas.

A família Amanpour refugia-se em Inglaterra.

Christiane sempre soube. Traçou de imediato o seu destino. As dificuldades deram um propósito à sua vida. Queria escrever a sua própria história não como vítima mas como contadora de histórias que pudessem dar voz aos outros, queria estar no meio dos eventos mundiais que transformam a vida das pessoas.

Amanpour soube logo que queria ser jornalista e não havia caminho de regresso. E desde então abraçou uma missão.

Londres.

A pequena Escola de Jornalismo de Fleet Street abriu-lhe as portas.

Mas Amanpour sempre soube. E seis meses mais tarde percebe que tem de partir para os Estados Unidos.
“Se eu tiver uma missão e trabalhar arduamente, eu posso ser bem sucedida na América”.
E assim foi.

A menina que nasceu em Londres no dia 12 de janeiro de 1958, no seio de uma família abastada e bem relacionada politicamente, filha de mãe católica inglesa e de pai muçulmano iraniano, logo após o seu nascimento vai com os pais para Teerão, onde o pai é executivo de uma companhia aérea. Vive uma infância protegida.

É uma menina tímida mas já muito atenta às conversas dos adultos. Intrometida segundo alguns. Gosta de estar sempre por perto para ouvir. Aos 5 anos brinca com a sua cadela Cindy e com a sua irmã Fiona. Tem um olhar doce de olhos negros e um sorriso aberto nuns lábios carnudos. O cabelo preto brilhante emoldura-lhe o rosto com uma franja curta que lhe faz sobressair as sobrancelhas bem delineadas e o narizinho empinado.

Tal e qual como é hoje.

Em Teerão, Christiane vive numa casa ampla e bem decorada. Veste blusinhas brancas com casaquinhos de malha e saias de pregas pelos joelhos. É uma menina privilegiada.

Monta cavalos árabes desde os 5 anos e sempre que cai é literalmente agarrada pelos colarinhos e tornada a ser posta nas costas do cavalo, o professor de equitação não lhe dava outra hipótese. Desde ai começou a ter uma certa audácia e insolência. Sempre foi ensinada a ter coragem e força.

Aos 11 anos vai para o Reino Unido onde estuda nos mais conceituados colégios internos de tradição católico-romana. Fala Persa, Inglês e Francês fluentemente. Regressa aos 18 anos para Teerão e dá por certas algumas coisas na sua vida.
“Vou casar cedo, viver no Irão e continuar a levar uma vida relativamente protegida”.
Mas depois Amanpour perdeu o seu país e tudo o que lhe era importante, membros da família e amigos foram executados. Passou pela revolução no Irão e sobreviveu com uma certa força.

O sonho americano esperava-a. Frequentou a Universidade de Rhode Island onde estudou jornalismo e se graduou em 1983, Summa Cum Laude, com as maiores honras e com as melhores notas. Amanpour perseguia com ambição o sucesso. Até hoje o faz e não há nenhum prémio de jornalismo televisivo que não seja seu.

Depois de alguns estágios em orgãos de comunicação locais associados à Universidade, Amanpour entra ainda em Setembro de 1983 na CNN onde fica colocada como assistente em Atlanta. A CNN hoje uma cadeia de televisão internacional e consagrada outrora uma criança nascida em 1980 a dar os primeiros passos num jornalismo que viria a ser pioneiro.

Amanpour chegou à CNN com um fato, uma bicicleta e cem dólares. Lizzy, a sua irmã onze anos mais nova e também jornalista recorda o passado e conta que disseram a Christiane inúmeras vezes que ela não tinha nem o look, nem a voz certa para ser jornalista de televisão. O primeiro chefe disse-lhe:
“Nunca vais conseguir”.
Mas Amanpour conseguiu. Ambiciosa e persistente sem nunca achar que nenhum trabalho que lhe fosse atribuído era demasiado fútil, impôs claramente os seus objectivos aos seus superiores. 
“E quando o grau de exigência estava acima do meu grau de experiência eu não me encolhia. Fazia o melhor que pudia.”
Queria ser correspondente internacional. Queria ser correspondente de guerra. Fazer reportagem no terreno, assistir ao que se passa no mundo, falar com as pessoas e dar-lhes voz. Queria ser jornalista, contar histórias. Queria dar a informação e a verdade ao mundo pelos seus próprios olhos.

Em 1986 é transferida como correspondente para a Europa de Leste durante a queda do comunismo. O seu estilo de reportagem começa a chamar à atenção da CNN.

Em 1989 vai trabalhar para Frankfurt de onde reporta as revoluções democráticas do leste europeu e a queda do Muro de Berlim.

Em 1990 consegue o lugar de correspondente internacional na CNN em Nova Iorque.

A década de 90 é a década de glória de Christiane Amanpour. Amanpour consagra-se como jornalista e repórter de guerra pelo seu estilo de reportagem e audácia.

Amanpour finalmente embarca na sua missão. Com as reportagens da Guerra do Golfo Pérsico em 1990/91, aquando da ocupação do Koweit pelo Iraque ela eleva a fasquia como jornalista e leva a CNN até um patamar de cobertura de notícias completamente novo. No pós-guerra Amanpour continua a cobertura jornalística com várias reportagens sobre a revolta dos curdos no norte do Iraque.

Ainda em 1991, Amanpour cobre o desmantelamento da União Soviética e o consequente conflito na Georgia.

Christiane Amanpour está em todo o lado. É The New York Times que o diz:
“Onde estiver a guerra, está a Amanpour.”
Bósnia-Herzegovina, Balcãs, 1992-1996. O palco da vida de Amanpour.

Mais uma manhã fria em Sarajevo, a cidade está cercada. Amanpour dorme num quarto de um hotel que se assemelha a uma torre de cimento com janelas que ao longe parecem gaiolas, no centro da cidade, na linha da frente, sem protecção, sem água, sem aquecimento. Nessa manhã acorda com o som da artilharia a entrar na cidade e a bombardear as pessoas, os civis.

Estava desesperada para sair do quarto mas não encontrou a chave. Depois houve um silêncio e pensou que tinha sonhado. No hotel, dois andares abaixo do seu quarto um morteiro tinha esburacado um quarto vazio, que porque o destino de Amanpour assim o quis, não explodiu.

Amanpour bate sempre três vezes na madeira quando sobrevive a qualquer situação de perigo eminente, sempre que a vida lhe é poupada.

E fez questão de nunca mais esquecer aquela manhã fria e barulhenta que subitamente se transformou em silêncio como se não tivesse passado de um sonho. Amanpour trouxe consigo o engenho que não explodiu para se recordar que pudia estar morta, mas sobreviveu. É um dos muitos objectos decorativos que traz das suas viagens pelo mundo. Agora está em sentido e em silêncio na sua casa-de-banho a servir de porta guarda-chuvas.

Amanpour tem uma relação especial com o medo.
“O que tiver de acontecer. Acontece.”
As reportagens de Amanpour sobre o conflito nos Balcãs viraram a mesa do jornalismo internacional. Amanpour revela-se uma correspondente de guerra intrépida e corajosa. À frente das câmaras da CNN, Christiane Amanpour está no terreno, sem maquilhagem, de colete à prova de bala e capacete. Sem rede.

Amanpour faz uma cobertura jornalística da natureza selvagem do conflito na Bósnia, histórias de interesse humano violentas, rigorosas, perspicazes e sempre inspiradoras. O mundo ocidental ficou realmente a saber o que lá se estava a passar.

O Massacre de Srebrenica, o grande genocídio na Europa depois do Holocausto. Amanpour reporta as atrocidades da Bósnia e recusa que o Ocidente as ignore. Ela assume uma posição arriscada enquanto jornalista com o seu estilo de reportagem emocional.

A regra de ouro dos jornalistas: a objectividade.

Amanpour é confrontada com ataques e críticas ao seu trabalho que questionam a sua objectividade profissional.

Mas a combativa e profissional Amanpour defende-se e justifica-se.
“Quando somos neutros. Somos cúmplices. Objectividade não significa tratar todos os lados igualmente. Significa escutar cada um dos lados.”
Amanpour acha que os jornalistas devem chamar as coisas pelos nomes e contar sempre a verdade. E foi este estilo de reportagem que a catapultou para a fama internacional.

Amanpour é descrita como calma, modesta, reservada e bastante magnética mas quando lhe falam de jornalismo e de verdade transforma-se na destemida correspondente de guerra capaz de fazer a cobertura jornalística nas piores zonas de conflito mundiais.

Christiane Amanpour desde criança foi habituada a conviver com diferentes religiões e culturas, etnias e ambientes e acredita na tolerância religiosa, política e em qualquer tipo de relação, construindo pontes entre as diferenças, minimizando o extremismo.

Não é difícil imaginar que Amanpour já esteve em todo o lado, ela persegue os acontecimentos e já assegurou entrevistas exclusivas com os maiores e mais duros líderes mundiais. É impossível nomeá-los todos.

Falta-lhe um: Estaline. Se fosse vivo, Amanpour gostava de lhe perguntar como é que um homem vulgar se transformou num assassino de massas megalomaníaco.

Amanpour já cobriu os maiores conflitos e crises de todo o mundo. Iraque, Balcãs, Afeganistão, Médio Oriente, Irão, Paquistão, Somália, Sudão, Ruanda, Líbia, Egipto, Coreia do Norte…

Mas não esquece a Bósnia nem o Ruanda. Os mais sangrentos. Chora quando fala no Ruanda.

Amanpour é assim: procura superar-se todos os dias e nunca acha que já não tem nada a provar, quer dar sempre o seu melhor. Confessa que até quando entrevistou recentemente Malala Yousafzai, uma jovem paquistanesa de 16 anos que defende os direitos humanos e a educação, estava nervosa.
“Estou sempre nervosa, é uma questão de adrenalina.”
Mas quando a entrevista começa esquece tudo e sente-se na sua zona de conforto.

Embora nem sempre tenha sido assim. Um dos momentos memoráveis da sua carreira televisiva acontece quando em 1992 entrevista telefonicamente o líder palestiniano Yasser Arafat quando está cercado por tropas israelitas no seu quartel-general em Ramallah. Visivelmente irritado com as suas perguntas incisivas e com a sua situação,  Arafat repreende Amanpour em directo. Ela repete as perguntas num arregalar de olhos sem desistir mas Arafat diz:

“ Obrigado. Bye. Bye”. E desliga-lhe o telefone na cara.

Mas Amanpour não perde o leme.

Por um dia troca o mundo por si. A 8 de Agosto de 1998 na pitoresca e romântica vila medieval italiana de Bracciano no clima temperado do mediterrâneo, num dia de céu azul e calmaria Christiane chega. Chega sem pressa. Chega sem colete à prova de bala, sem capacete e sem as suas fiéis botas de campo Tods que já palmilham o mundo consigo desde que as comprou em Paris em 1992. Também não traz microfone e não vai ter de partilhar a tenda com o cameramen num deserto abrasador e poeirento.

Depois do sonho americano, o conto de fadas.

Amanpour não tinha a certeza do que vestir então comprou um simples vestido de noite branco.
“Tens de vestir um vestido fabuloso!”- alguém lhe disse.
Faltavam duas semanas para o casamento quando Amanpour se rendeu  ao atelier da estilista Catherine Walker em Londres e comprou o seu vestido de noiva.
“O vestido era lindo e justo com cauda média e gola redonda e aí pude mostrar os meus braços, foi o meu dia Michelle Obama”, que Amanpour tem como um símbolo de inteligência e elegância.
Christiane casou com James Rubin, conhecido por Jamie, um americano de fé judaica, antigo assistente de secretário de estado e porta-voz durante a administração Clinton.

A cerimónia católica aconteceu na igreja medieval de Santo Stefano e mais tarde a cerimónia judaica no lindo castelo feudal de Orsini-Odescalchi.

JFK Jr. e Carolyn Bessett amigos chegados dos tempos da universidade foram os convidados mais mediáticos do casamento de Amanpour.

Com 42 anos teve o seu primeiro e único filho, Darius John Rubin. Darius I, o Grande, Amanpour relembra o histórico rei da Pérsia.

Enquanto esteve grávida não pensou sequer em deixar de ser correspondente de guerra. Assume uma exagerada arrogância durante a gravidez porque estava consciente de ser mulher e não pudia correr o risco de lhe dizerem que agora que ia ser mãe não pudia fazer mais o seu trabalho. Amanpour dizia para si própria e para os outros que nada ia mudar e que levaria a criança com ela, que só precisava de fraldas de kevlar e um mini colete à prova de bala!

Mas no momento em que Darius nasceu Amanpour mudou. Diz que nunca na vida o levaria a esses lugares. O amor e o sentimento de protecção é inexplicável. Desde que se tornou mãe Amanpour fica imensamente mais emocionada cada vez que vê crianças indefesas em sofrimento e chora cada vez que isso acontece.

Amanpour sempre teve um sentimento de invulnerabilidade, que nada de mal lhe pudia acontecer, agora sente mais preocupação acerca da sua própria segurança e sobrevivência. Christiane admite que nunca puderia ter feito o trabalho que fez se fosse casada ou tivesse um filho. Hoje em dia acorda e pensa que se transformou num gato assustado.

Amanpour deu toda a sua energia, emoção e intelecto ao jornalismo e já o faz há três décadas. Ainda quer fazer reportagens sobre imensas histórias. Adora fazer reportagem sobre mulheres e crianças que continuam a ser oprimidas e não têm voz nem direitos na sociedade. Adora quando conhece histórias de luta e de sucesso que pode mostrar ao mundo.

Quando lhe fazem a habitual pergunta sobre se o seu trabalho seria mais fácil se ela fosse um homem, Amanpour responde sem dúvidas. Sente-se confortável como mulher e nunca desejou ser homem.
“No trabalho é como se fosse um homem, mas melhor.”- desafia.

“Nunca”.
De 1996 a 2005 foi repórter do 60 Minutes da CBS News, com reportagens especiais internacionais mas Jeff Fager, o responsável que sucedeu a Don Hewitt, não era fã do trabalho de Amanpour e terminou-lhe o contrato.

Desde 1992 Amanpour era chefe dos correspondentes internacionais da CNN mas a 18 de Março de 2010, anunciou que iria deixar a CNN pela ABC News, onde apresentaria o programa semanal nas manhãs de domingo sobre política interna americana This Week. Apesar deste novo desafio Amanpour já fazia parte da família CNN e fez uma despedida sentida.
“Deixo a CNN com o máximo respeito, amor e admiração pela empresa e por todos os que lá trabalham. Esta tem sido a minha família nos últimos 27 anos e estou para sempre grata e orgulhosa por tudo o que conquistamos.”
Jim Walton, presidente da CNN, elogiou Amanpour pelo seu empenho, por perseguir as histórias em qualquer parte do mundo, pela sua paixão, carácter e generosidade e acima de tudo pelo seu extraordinário jornalismo.

Amanpour já foi considerada pela revista Forbes uma das mulheres mais poderosas e influentes do mundo, e a Revista Time considerou-a a correspondente de guerra mais influente desde Edward R. Murrow.

Ganhou todos os grandes prémios do jornalismo televisivo incluindo um Inaugural Television Academy Honor, nove Emmy, quarto George Foster Peabody Awards, dois George Polk Awards, três Du Pont Columbia Awards, Courage in Journalism Award, Edward R. Murrow Award, a Giants of Broadcasting Honor from Library of American Broadcasting, nove graus honorários entre outras honras.

É membro do Comite de Protecção dos Jornalistas e da Fundação Internacional das Mulheres nos Media, faz parte da Academia Americana de Artes e Ciências, é Cidadã Honorária da Cidade de Sarajevo e Mulher Iraniana do Ano 2007.

Uma das maiores honras que alcançou como jornalista foi-lhe atribuida pelas mãos da Rainha de Inglaterra, quando foi nomeada como Commander of the Most Excellent Order of the British Empire (CBE).

No Palácio de Buckingham a 17 de Junho de 2007, Amanpour veste um fato branco com saia e um chapéu castanho com um laço. A Rainha de vestido azul brilhante põe a medalha na lapela de Amanpour. É uma cruz azul e dourada numa fita vermelha com o mote “For God and the Empire” pelos seus serviços prestados em prol do jornalismo. Representa o reconhecimento do jornalismo sério. Agradece e partilha a honra com os colegas e amigos que acreditam no mesmo tipo de jornalismo, bem como aqueles que morreram ou ficaram feridos a fazer reportagens nas linhas da frente.

Amanpour lembra com gravidade e pesar a morte recente de Marie Colvin, em missão na Síria e de outros correspondentes estrangeiros em zonas de guerra.
“Eles querem calar-nos. Basta olhar para as estatísticas, eles querem matar o mensageiro”. 
Actualmente Amanpour é apresentadora dos assuntos internacionais na ABC News e também apresentadora da CNN International a que regressou a 16 de Abril de 2012 com Amanpour, o programa diário de entrevistas sobre assuntos internacionais da actualidade transmitido em prime-time. Continua a ser a chefe internacional dos correspondentes da CNN.

Amanpour fez inúmeros documentários. Where all the Parents Gone?; In the Footsteps of Bin Laden; Revolutionary Journey; The War Within, God’s Warriors. Numa lista interminável de trabalhos de grande qualidade que continuam a acumular prémios.

Nunca foi jornalista de secretária, o campo é o seu terreno, o autêntico centro de gravidade do jornalismo. Estar no estúdio a apresentar programas fá-la sentir-se como um animal enjaulado.

No estúdio com maquilhagem e cabelo arranjado Amanpour parece uma mulher diferente. As pessoas perguntam-me se fez algum lift ao rosto. Mas não. Simplesmente tem melhor luz no estúdio. Brinca quando diz que a costumavam chamar Jagger lips, por causa dos seus lábios naturalmente proeminentes. De cabelo negro brilhante e com as típicas argolas e pulseiras de ouro que a caracterizam, Amanpour continua implacável e assertiva à frente das câmaras, mas sempre discreta.

Christiane acredita que a roupa que os jornalistas usam à frente da câmara não deve sobrepôr-se e tirar a importância à informação.

Não que Christiane nunca tivesse sentido dentro de si o desejo secreto de ser uma mulher elegante como Audrey Hepburn ou Jackie Onassis mas a moda para ela é território hostil e desconhecido. Os seus ícones de estilo são os casacos safari, ou a eterna parka verde-azeitona com capuz de pelo a que habitou os telespetadores enquanto esteve na Bósnia, cabelo brilhante com franja e a sua feroz inteligência. O seu look é simples e prático e é capaz de fazer as malas em quinze minutos.

Mas Amanpour é mulher. E tem muita classe.

Christiane tem objetos de culto. Gosta de ter coisas boas e duradouras. Não gosta de usar as coisas uma só vez, geralmente guarda-as para sempre. Gosta de ver nas peças que usa uma história. E tem peças de estimação que afirmam o seu carater. Peças de joalheria que marcaram algum momento importante da sua vida como o relógio Bulgari que usa, um generoso presente de casamento oferecido por Paolo Bulgari.

Ainda guarda os sapatos do seu casamento, uns Manolo Blahnik que mandou pintar de vermelho mais tarde. Geralmente mais altos do que usa diariamente. Na maior parte das vezes usa sapatos rasos porque anda de bicicleta para todo o lado que pode.

Recorda-se que durante o furacão Sandy, a tempestade tropical que trouxe ventos fortes e inundações em Nova Iorque e bloqueou os transportes, chegou à televisão todos os dias de bicicleta sem nunca se atrasar.

Desde cedo esteve em várias cidades do mundo, mas nestes últimos anos tem dividido a sua vida pessoal entre Nova Iorque e Londres. Quando casou vivia em Londres e Jamie estava em Washington viam-se praticamente uma semana  no mês e estavam juntos no metro, depois engravidou e as pessoas perguntavam-lhe:
“Como?!”
Em Março de 2000 quando nasceu Darius, Jamie muda-se para Londres. Vivem no charmoso bairro de Notting Hill e passeiam como qualquer família no Hyde Park.

Anos mais tarde Nova Iorque, onde vivem no nobre bairro de East Upper Side em Manhattan, num apartamento de luxo com vistas para o Central Park onde Amanpour tem uma generosa colecção de livros e de obras de arte.

Em Maio de 2013, Jamie anuncia que a família regressa a Londres. Depois das férias, Amanpour e a família regressam no fim de Julho novamente para a casa de Notting Hill.

Amanpour está feliz com o regresso a Londres. Londres é a sua casa. Onde vive a família e os amigos que deixou para trás.

Amanpour é uma mulher feliz. Gosta de sair. Ir a bons restaurantes, ver boas peças de teatro, ir ao cinema e ir com o filho visitar museus. Entusiasmada diz que não esquece a atuação de Eric Clapton no Royal Albert Hall.

Christiane nunca vai ser uma dona de casa. Confessa que não sabe cozinhar e sente-se aliviada por admiti-lo sem nenhum problema. Tem almoços de família semanalmente em Londres e encomenda comida persa.

Nunca passa muito tempo sozinha. Faz questão de aproveitar o tempo que tem com o filho e com o marido, os amigos e a família. Fala com carinho e orgulho dos pais que continuam juntos. O pai Mohammed, que já ultrapassou os noventa anos e a mãe Patricia, dezanove anos mais nova.

Amanpour continua  a acreditar que os jornalistas são forças indispensáveis  nas democracias e nas sociedades civis. Ela diz que se a profissão não for respeitada pelos próprios jornalistas e for desperdiçada no domínio da trivialidade e do sensacionalismo, os jornalistas vão perder a sua reputação. Ela acredita que uma sociedade próspera precisa de uma imprensa próspera.

Amanpour continua a ter confiança no jornalismo o que faz dela uma espécie em vias de extinção. Ela acredita que os próprios jornalistas têm de parar de se minar a si próprios e perceberem que o jornalismo é uma incrível e nobre profissão. Amanpour fala com entusiasmo de Woodward e Berstein. Jornalistas exemplares que nunca perderam a integridade nem a credibilidade.
“Que heróis!”.